Alinhamento de gênero e como essa terminologia se tornou inadequada


Aviso de conteúdo: menção à violência queermísica, racista, misógina e capacitista; reducionismo de gênero; cissexismo; discussão de pessoas não-binárias se identificando com questões binárias; críticas às várias formas que pessoas usaram o termo alinhame

Uma postagem marcante na discussão sobre alinhamento de gênero definiu a ideia desta forma:

Por conta da forma que [identidades não-binárias] se cruzam com o binário de gênero, há vezes que é útil nos categorizarmos como pessoas com experiências comuns com homens ou com mulheres. Se existe uma sobreposição muito grande, como quando alguém é exclusivamente percebide como homem/mulher e então está sujeite a problemas sociais que afetam tais classes, pode haver valor em "nos alinharmos" com essas classes, para ter discussões significativas sobre como opressão funciona.

Há valor em poder dizer "sou negativamente afetade por esse conjunto específico de preconceitos de gênero, mesmo que eu não seja deste gênero".

Esse era o propósito inicial de termos como "alinhade com homem" e de "alinhade com mulher". Identificar sobreposições fortes em pressões externas e experiências, ou identificar sobreposições de identidade pessoal com as experiências de outro gênero.


Os exemplos dados foram de ume proxvir racializade poder ter uma narrativa similar a de um homem racializado quanto a racismo específico contra homens, e de ume ambonec com TEPT complexo viste como mulher poder ser sujeite a um monte de misoginia médica em relação à sua diagnose e ao seu tratamento da mesma forma que uma mulher cis seria.

Esta mesma postagem também fala de como esses termos foram cooptados para significar "basicamente binárie" ou até mesmo "basicamente cis", e sugere então termos novos para que pessoas não tenham que se associar com essas ideias.

Tais termos são lunariane ("alguém que tem similaridades em identidade ou experiência com mulheres"), solariane ("alguém que tem similaridades em identidade ou experiência com homens") e estelariane ("alguém que não possui alinhamento forte com o binário de gênero, ou que rejeita tal alinhamento").

Acho interessante que esta postagem fala de alinhamento quase que exclusivamente como uma questão de uma pessoa ser injustamente colocada na mesma categoria que um gênero binário e sofrer algum tipo de opressão por isso.

Não acho que todas as pessoas usavam alinhamento só por isso, também. Mesmo as pessoas que não usavam esse tipo de identidade por conta de opressão baseada em gênero ou para serem exorsexistas (apagando as identidades individuais de pessoas não-binárias para dizer "mas você na verdade é homem/mulher" sem dizer isso de forma explícita) às vezes queriam expressar conexão com algum gênero binário por conta de expressão de gênero, sentimento interno ou transição desejada, motivos pelos quais algumas pessoas também usam termos como homem/mulher não-binárie, transmasculine e transfeminine.

Eu não sei dizer se isso seria um problema para o propósito de descrever opressão por gênero. Eu diria que não. Em ambos os casos, alinhamento seria uma forma de uma pessoa não-binária dizer que tem algum tipo de experiência/sentimento/vivência em comum com alguém de algum gênero binário, caso queira sinalizar algo do tipo.

Mas, mesmo nos círculos com a melhor das intenções, isso deu errado.

Problema 1: Misturar alinhamento de gênero com definições/categorizações de identidades de gênero


Logo quando os termos estelariane, lunariane e solariane foram cunhados, pessoas já aparentemente não pegaram a ideia disso ser algo opcional e pessoal, e começaram a associar certas identidades com certos alinhamentos.

Postagens apareciam colocando zenina, juxera, demimulher, libramulher e mulher-fluxo como identidades lunarianas, por exemplo.

Algumas pessoas também começaram a cunhar termos e, ao invés de dizer que eram associados com tal gênero, diziam que eram alinhados com tal gênero.

Eu entendo que alguém que sente alguma similaridade com a identidade mulher pode se identificar como lunariane. Mas se o exemplo original de uma pessoa alinhada com o gênero mulher na postagem que cunhou lunariane é de ume ambonec, dizer que gêneros específicos são de alinhamentos específicos não pode acabar deixando pessoas que não possuem gêneros relacionados aos binários desconfortáveis demais para usar termos como lunariane ou solariane por conta da opressão que sofrem?

Isso também é presumir sobre as identidades/vivências das pessoas. E se alguém for demimulher, mas for uma pessoa transmasculina que só se identifica como parcialmente mulher por isso fazer parte do seu gênero e não vê isso como uma parte relevante da sua identidade a ponto de ser seu alinhamento? E se algume juxera achar mais relevante a confusão que as pessoas têm com seu gênero por conta de sua expressão genderfuck do que a proximidade do seu gênero com mulher?

Cunhar termos com base em alinhamentos não é um problema tão grande, porque se alguém se identificar com o resto do termo mas não se ver como alinhade com algo, é só não usar. Ainda assim, não vejo porque não seria melhor deixar o gênero só relacionado com algo, e então deixar pessoas decidirem seus próprios alinhamentos de gênero separadamente.

Pessoas também começaram a perguntar, em blogs de ajuda, por "gêneros alinhados com tal coisa". Sendo que, se alinhamento de gênero não é associado com gênero, qualquer identidade de gênero pode ter qualquer alinhamento. Ume ambonec pode ser lunariane, uma pessoa agênero pode ser solariana, ume zenina pode ser estelariane, etc. Eu entendo que provavelmente o que querem dizer é que querem saber mais sobre gêneros associados/parecidos com certo gênero, mas isso não ajuda pessoas cujas identidades de gênero não deixam seus alinhamentos "óbvios" a se sentirem seguras em compartilhar/ir atrás de comunidades para tal alinhamento.

Um exemplo de como isso é ruim: Ume maverique é viste como homem e participou de espaços para homens por um longo tempo, antes de se perceber não-binárie. Tal maverique não se sente confortável com pessoas presumindo que elu é homem, mas isso de qualquer forma acontece com frequência e afeta suas experiências de vida. Solariane poderia ser um rótulo confortável para elu, porém grande parte das coisas disponíveis para pessoas solarianas presume que a maioria delas é de algum gênero parecido com homem, ou que são parcialmente homens, ou que são homens parte do tempo. Alguém que está tentando se afastar da ideia de que "na verdade é homem" vai se sentir confortável adotando esse alinhamento de gênero?

Problema 2: Misturar alinhamento com gêneros binários com feminilidade/masculinidade


Como já falei em outro texto, feminilidade e masculinidade são termos usados de duas formas que, ainda que façam sentido com suas definições básicas, são bem distintas na prática:

  1. Ser uma pessoa feminina ou masculina significa se dizer ao menos "meio mulher" ou "meio homem", respectivamente;
  2. Ser uma pessoa feminina ou masculina significa aderir a arquétipos relacionados a estereótipos de gêneros binários.

O que acontece é que, muitas vezes, pessoas passaram a usar "alinhamento com feminilidade/masculinidade" ao invés de "alinhamento com mulher/homem". Talvez isso seja por acharem que, por exemplo, alinhamento com feminilidade seja uma forma mais abrangente de falar de alinhamentos relacionadas com ser mulher, ao invés de ser um alinhamento estrito com ser mulher.

Mas isso acaba alienando as pessoas que rejeitam a ideia de que feminilidade/masculinidade precisa ter a ver com estar perto de um gênero binário (1), e que são mais acostumadas com a ideia de que ser uma pessoa feminina/masculina tem só a ver com se identificar com certos arquétipos/estereótipos, independentemente do gênero (2).

Um exemplo: Imaginem ume femil - uma pessoa cujo gênero é mulher, mas com 0% de feminilidade e ao menos alguma identificação com masculinidade - que passou boa parte da vida se identificando como bofinho. Que sempre foi criticade por não ser feminine, e que enfrenta violência por ser viste como "mulher que se veste de homem". Essa pessoa tem um gênero relacionado com mulher, e passa por questões enfrentadas por mulheres binárias, então faz sentido dizer que possui um alinhamento de gênero com mulher. Mas será que alguém assim se identificaria com um alinhamento com feminilidade?

Esse exemplo pode ser fictício, mas a pessoa que cunhou femil e melle é melle e já falou que não consegue usar o sistema de alinhamento de gênero por conta das pessoas juntarem feminilidade com ser mulher e masculinidade com ser homem, ainda que seja uma pessoa que se vê como alguém que tem alinhamento com ser homem e com feminilidade, mas não com ser mulher ou com masculinidade.

Problema 3: A obrigação de alinhamento


Isso não é algo tão presente em círculos mais inclusivos, e nunca cheguei a ver isso na lusosfera, mas acho que é uma questão importante pra apontar, já que é relacionada com o assunto.

Para não ignorar a existência de pessoas não-binárias que se identificam com termos vistos como binários, e também não ignorar que pessoas que usam os termos vistos como binários não querem que tais termos sejam deturpados, é comum haverem definições como:

Lésbica: Uma mulher ou pessoa alinhada com o gênero mulher que sente atração somente por mulheres ou por pessoas alinhadas com o gênero mulher.


Eu não acho que essa definição é necessariamente problemática, porque pela maior parte ela está certa. E não acho que adicionar todas as exceções possíveis a definições é um processo muito útil, já que sempre vão haver mais delas.

Mas, tipo assim, já não tem um monte de casos lá em cima no texto sobre um monte de casos onde pessoas não são (completamente, sempre, etc.) mulheres e não se sentem/talvez não se sintam confortáveis se dizendo lunarianas/alinhadas com o gênero mulher?

Fora que, se é comum que pessoas relacionem pessoa alinhada com o gênero mulher com pessoa com identidade de gênero relacionada com ser mulher, isso não poderia causar problemas para lunarianes que são agênero, maveriques, ou de outras identidades que não possuem mulher no nome ou na definição?

Ou pior: Como pessoas vão se sentir confortáveis adotando ou mantendo essa identidade se, mesmo que sintam alguma conexão ou relação forte com ser mulher, não possuem identidade de gênero com mulher no nome ou na definição, e não se sentem confortáveis se dizendo lunarianes/alinhades com o gênero mulher por conta das questões listadas acima?

Os problemas que isso causa não são apenas teóricos: existem pessoas que se afastam de espaços para homens com atração por homens/mulheres com atração por mulheres por medo de invadir mesmo que se identifiquem com os termos usados, e existem pessoas tratadas como "invasoras" por não se identificarem com os termos de identidade e/ou alinhamento de gênero "certos" para que possam ser aceitas em tais espaços.

Existem sim termos como feminamórique e viramórique, mas muita gente gosta de ter um termo "que a maioria entende" como identidade, e as comunidades femínicas, mascúlicas, feminamóricas, viramóricas, dóricas e trízicas não são muitas nem grandes.

Problema 4: Falta de comunicação entre "desalinhades" e pessoas com alinhamentos não-tradicionais


Não é à toa que foquei muito mais em alinhamentos com homem e com mulher neste texto; são os alinhamentos mais discutidos e destacados.

Mas até mesmo estelariane foi um termo cunhado junto a lunariane e solariane. Se lunariane significa que a pessoa tem alinhamento com ser mulher, e solariane significa que a pessoa tem alinhamento com ser homem, estelariane aponta, pra mim, um alinhamento com não-binaridade.

Isso pode parecer desnecessário: pra quê ter um alinhamento com não-binaridade, se a pessoa já é não-binária?

Eu acredito que a intenção tenha sido de oferecer um termo que explicitamente diz "não, eu não me vejo como alguém próxime de um gênero binário, ou como alguém mais próxime de um gênero binário do que do outro". Que diz "não importa a minha identidade de gênero ou como as pessoas me veem, eu não me sinto confortável em dizer que tenho experiências em comum com um dos gêneros binários".

Que diz "não, eu não tenho um alinhamento binário". Então, é, um alinhamento com qualquer coisa que não seja binária.

Eu acredito que a ideia tenha sido que estes três termos fossem absolutos; ou você se identifica como alguém que tem algo em comum com algum gênero binário, ou não (seja por ter coisas em comum com ambos, seja por não não ter nada em comum com ambos, seja por rejeitar a ideia de ter algo em comum com um ou outro).

Mas, é, quando a comunidade gosta de termos e começa a usá-los, buracos começam a aparecer.

Surgiram alinhamentos que são combinações desses três termos; surgiram alinhamentos que são parcialmente cada um desses três termos; surgiu o termo singulariane para quem não tem alinhamento nenhum.

Muita gente também começou a ver estelariane como um alinhamento com neutralidade.

Mais tarde, também surgiu xênique, um termo para quem tem alinhamento com um ou mais xenogêneros. Também surgiram termos mais específicos para conceitos xenogênero específicos (como alinhamentos com luz, com animais, com cristais, etc).

Mas, o que importa aqui, é que parte da comunidade ignorou todo esse desenvolvimento, e agiu como se só houvessem pessoas alinhadas com mulheres, com homens, ou sem alinhamento.

Eu não acho que há algo de errado em falar que existem pessoas sem alinhamento de gênero. Porém, em muitos textos, era como se não ter alinhamento de gênero fosse sinônimo com não ter um alinhamento de gênero puramente binário. Por exemplo, a falta de espaços para pessoas que não são mulheres ou homens ou alinhadas com esses gêneros não é uma questão que só é relevante para quem não tem alinhamento, quando pessoas estelarianas, xênicas ou eclipsianas (que são lunarianas e solarianas) também enfrentam problemas com essas divisões.

Quando alguns termos e espaços surgiram para pessoas sem alinhamento de gênero, algumas pessoas tiveram que perguntar se a ideia era para pessoas sem alinhamento ou sem alinhamento binário, especialmente quando eram coisas acompanhadas por alternativas que eram apenas para pessoas com alinhamentos binários.

Mas e então, o que fazer?


Eu sinceramente não sei se há como "consertar" todas as impressões erradas sobre os sistemas de alinhamento de gênero. Ao menos não tão cedo e se cada pessoa continuar usando esses termos de forma diferente.

Não acho que é um problema que alinhamentos de gênero ainda existam. Mas pessoas precisam certamente parar de fazer presunções baseadas em conhecimentos limitados (como gêneros relacionados com mulher = gêneros femininos = "gêneros lunarianos" ou pessoas que não são alinhadas com homem ou com mulher = pessoas sem alinhamento), se querem parar de machucar ou afastar pessoas de termos que acham úteis.

Acho que estelariane e xênique me contemplam bastante, mas não são termos que faço questão de usar.

O sistema alibinário foi feito para poder ter termos que falam de questões diferentes sem elas serem divididas por que tipo de identidade de gênero a pessoa tem, mas ele não fala sobre questões de gênero enfrentadas especificamente por homens e pessoas solarianas ou por mulheres e pessoas lunarianas, ou qualquer equivalente disso.

A ideia de elementos de gênero foi cunhada para que pessoas possam expressar alguma relação com tais elementos independentemente de gênero, mas eles não possuem nenhum propósito político (de falar de questões específicas enfrentadas por certos grupos).

Também existem os termos proxmenina e proxmenino (e, sim, como qualquer outra identidade com esse tipo de nome, dá pra usar proxmulher, proxguri e afins). Eles podem servir como alinhamento, mas eu não sei o quanto os termos seriam confundidos com identidades de gênero, e/ou o quanto teriam o problema 1 descrito lá em cima.

Eu não sei se chamaria esses conceitos de alternativas, porque eles podem existir independentes de alinhamento de gênero. Mas se alguém quer apenas complementar sua identidade com outras coisas que a descrevem, esses sistemas podem ser usados. De qualquer forma, eu não acho que pessoas que usem o conceito de alinhamento de gênero precisem parar.

Também acho que a concepção do conceito foi importante para que pessoas pudessem se dar conta de como não é só porque uma pessoa é não-binária, ou mesmo porque tem um gênero completamente alheio a homem/mulher, que uma pessoa não pode "se alinhar" por ver que tem experiências em comum com pessoas binárias. E a cunhagem de alinhamentos parciais, mistos ou com identidades não-binárias também indica que pessoas podem sentir esse tipo de conexão com identidades fora do binário também.

O que mais quero que aconteça é que pessoas confiem mais nas experiências alheias sem precisar de rótulos. Alguém que é não-binárie e que quer usar um rótulo como aquileane deveria poder fazer isso sem ter que explicitar que é homem não-binárie, solariane, proxmenino, transmasculine ou qualquer outra coisa assim. Também seria legal confiar que, por exemplo, alguém bigênero homem/mulher não está invadindo ou traindo qualquer comunidade caso queira participar tanto de espaços de mulheres quanto de espaços de homens. Deixem que cada pessoa se descubra ou se identifique com o que achar melhor, ainda que "não faça sentido" para pessoas binárias.


Feminilidade e masculinidade dentro de terminologia não-binária


Eu queria começar esta postagem com os significados de dicionário de feminilidade e de masculinidade. Enquanto consegui achar para a primeira palavra algumas definições que eram justamente o que eu procurava (variações de "coisas relacionadas com ser mulher"), eu só consegui achar definições mais indiretas em relação à masculinidade (o que significa que eu teria que puxar mais verbetes para também explicar o que queriam dizer com virilidade ou com masculino para chegar em uma definição paralela à de feminilidade). Enfim.

O que está em questão aqui é que estes termos podem ser vistos de duas formas:

  1. Ser uma pessoa feminina ou masculina significa se dizer ao menos "meio mulher" ou "meio homem", respectivamente;
  2. Ser uma pessoa feminina ou masculina significa aderir a arquétipos relacionados a estereótipos de gêneros binários.

Alguns exemplos práticos:

  • Se apenas a forma 1 for estritamente seguida, pessoas que são mulheres NB, demimeninas ou de qualquer gênero relacionado a ser mulher são fundamentalmente pessoas femininas. Isso não significa que devem seguir qualquer estereótipo ou assumir qualquer papel de gênero; segundo a forma 1, feminilidade só significa ter alguma relação com ser mulher.
  • Se apenas a forma 2 for estritamente seguida, feminilidade e masculinidade são conceitos completamente separados de gêneros binários por si só. Alguém que é 100% homem pode se considerar uma pessoa feminina caso se identifique com uma série de arquétipos. Um gênero pode ser relacionado com feminilidade e ser completamente não relacionado com o gênero mulher. Estas coisas não são possíveis se apenas o modelo 1 for estritamente seguido.

Neste texto, eu pretendo falar sobre como estas duas formas de ver feminilidade e masculinidade afetaram e afetam a comunidade não-binária e qualquer pessoa que seja inclusiva dela.


Butch e femme


Butch é um termo utilizado para descrever masculinidade em pessoas NHINCQ+. Femme é um termo utilizado para descrever feminilidade em pessoas NHINCQ+.

Um artigo com fotos e experiências sobre ser femme pode ser encontrado aqui. Um artigo com a diferença entre estilo tomboy e estilo butch, que também tem fotos de estilos butch, pode ser encontrado aqui.

Ultimamente, houveram esforços para apagar que estes termos foram e são usados para pessoas não-binárias, multi ou quaisquer outras que não sejam lésbicas. Então aqui tem algumas fontes sobre a origem e utilização abrangente de tais termos: [1] [2] [3] [4] [5] [6]

Como dá pra ver, estes termos foram usados muito antes de pessoas terem palavras para descrever que não são mulheres nem homens.

E talvez nem precisassem; afinal, era ainda mais comum do que agora a visão de que se você fosse aquileane, sáfique, a-espectral, multi, intersexo ou trans, você não era realmente uma pessoa binária, e sim alguém de um gênero binário com características do outro gênero binário (por conta de duaricismo, era presumido que gostar de homens era característica fundamental de ser mulher, e que gostar de mulheres era característica fundamental de ser homem).

Enfim, enquanto certamente existem pessoas heterodissidentes, trans e intersexo que são binárias, é interessante notar que muitas pessoas já descreviam ser femme ou butch de formas que dava a entender que isso eram identidades muito mais voltadas à autopercepção do que a não serem hétero, e que eram identidades muito mais relevantes socialmente do que serem homens ou mulheres.

Muito disso pode ter a ver com como a desobediência de normas de gênero pode pesar bastante na experiência de alguém. Ou com como houve em vários lugares uma cultura de casais sempre serem entre uma pessoa femme e uma pessoa butch do mesmo gênero.

Porém, ao menos algumas pessoas adotaram butch ou femme como identidades de gênero por si só, especialmente quando a ideia de ser trans e genderqueer começou a ser mais espalhada.

Como estas identidades são mais populares ou abrangentes do que outras mais recentes, é relativamente comum ver pessoas dizendo coisas como "este espaço é para mulheres e femmes", dando a entender que femme é uma identidade adjacente a ser mulher. Mas não é à toa que esta atitude é criticada: existem muites butches que estão mais perto de serem mulheres do que de serem homens, e muites femmes que estão mais perto de serem homens do que de serem mulheres.

Esta é a dualidade que apareceu lá no início: algumas pessoas acham que feminilidade tem a ver com ser mulher, e outras veem feminilidade como uma característica que pessoas podem ter não importa a identidade de gênero.

Butch e femme aparecem em algumas listas de identidades não-binárias; especialmente as mais antigas. Espectometria Não-Binária definia a identidade de gênero butch como hipermasculina e relacionada com a masculinidade tradicional, e a identidade de gênero femme como hiperfeminina e relacionada com a feminilidade tradicional.

Eu diria que a feminilidade e a masculinidade dos termos femme e butch está mais para a visão 2 (relação com arquétipos) do que para a visão 1 (relação com gêneros binários). Mas eu não acho que isso tenha apagado totalmente a visão 1, por conta de identidades que vêm depois...

Pessoa não-binária feminina/feminina de centro/masculina/masculina de centro


O termo não-binárie começou a se popularizar por 2010, substituindo genderqueer quase totalmente uns anos mais tarde.

É meio difícil pesquisar por informações de quantas ou de por quais motivos pessoas se identificavam como pessoas não-binárias femininas ou masculinas. O que posso dizer é que isso era bem comum na primeira metade da década, e que ficou cada vez menos popular, à medida que termos como homem não-binárie, demigênero, juxera e transmasculine foram surgindo e se popularizando.

Em geral, suponho que a maioria das pessoas se identificando como não-binárias e femininas/masculinas estivessem principalmente se referindo à sua expressão de gênero, ao menos naquele momento. Algumas postagens antigas da época também parecem apontar nesta direção: [1] [2] [3] [4]

Mas mesmo em algumas destas postagens, e em postagens como esta, há sinais de ambiguidade em relação a masculinidade se referir a um gênero relacionado a homem, a uma expressão de gênero ou a um gênero relacionado a esta expressão de gênero (e a mesma coisa substituindo masculinidade por feminilidade e homem por mulher).

Especialmente em conteúdo desta época, também existem menções a espectros de gênero femininos e masculinos, e a identidades como masculine de centro e feminine de centro. Estas identidades parecem ter mais a ver com proximidade a gêneros binários, quando utilizadas para falar de gênero, mas isso é difícil de provar quando conteúdo sobre isso é tão difícil de achar.

Masculine de centro e feminine de centro especificamente aparentam ser identidades mais relacionadas com expressão de gênero, ao menos num contexto mais geral.

Transfeminine e transmasculine


A postagem mais antiga que consigo achar sobre o assunto não é a cunhagem original, mas deve se aproximar de sua definição. Link aqui.

Isso mostra que desde o início, transfeminine cobre mulheres trans, pessoas não-binárias que se identificam com alguma forma de feminilidade e pessoas cuja identidade de gênero é relacionada a ser mulher mesmo que não seja 100% mulher, desde que tais pessoas tenham sido atribuídas o gênero homem ao nascer.

E que transmasculine cobre homens trans, pessoas não-binárias que se identificam com alguma forma de masculinidade e pessoas cuja identidade de gênero é relacionada a ser homem mesmo que não seja 100% homem, desde que tais pessoas tenham sido atribuídas o gênero mulher ao nascer.

Isso é de uma postagem de 2011.

Por algum motivo, outras definições destes termos foram aparecendo com o termo. Algumas pessoas começaram a achar que, por conter feminine/masculine no nome, os termos não se aplicariam a pessoas cuja expressão de gênero não é feminina/masculina. Outras começaram a dizer que são termos apenas para pessoas não-binárias (algo que ainda vejo por um monte de lugares). Outras falam que são termos que servem puramente para descrever a transição física, e não gêneros por si só.

A maioria das postagens problematizando estes termos ou a utilização destes termos como guarda-chuva se baseia nestas definições parciais do que é ser transfeminine ou transmasculine.

Enfim, estes termos, ao menos na postagem de 2011, parecem unir as visões 1 e 2 do que é feminilidade e masculinidade: tanto noneras (pessoas de gênero feminino nada a ver com mulher) quanto femiles (pessoas de gênero mulher nada a ver com feminilidade, e que possuem ao menos algo de masculinidade no gênero) poderiam ser transfeminines, caso não tenham sido designades como mulheres ao nascimento. E tanto mulheres trans butch quanto femme entrariam na definição também. Tudo isso independentemente de transição.

Eu entendo que algumas das pessoas que se encaixam nas definições possam não querer compartilhar estes termos com outras pessoas de experiências totalmente diferentes e até às vezes contrárias às suas, mas os termos em si se encaixam nas duas interpretações de feminilidade/masculinidade.

Homens e mulheres não-bináries


Em geral, estes termos são utilizados por pessoas que se identificam com alguma coisa dos gêneros binários e com não-binaridade.

Por exemplo, este homem não-binário se vê como um homem cujo gênero não é expressado dentro do binário. Esta mulher não-binária relata que mulher é uma boa aproximação de como se sente, e que prefere ser vista como mulher do que como homem, mas rejeita estereótipos do que é ser mulher e de que seu gênero precisa ser binário.

Também vi relatos falando sobre como essas pessoas "sempre vão ser vistas como um gênero binário, então decidem dizer que são do gênero binário que as pessoas presumem/deveriam presumir além de serem não-binárias". Isto pode acontecer em alguns casos, mas com certeza existem outras experiências válidas de ser homem/mulher não-binárie.

Esses termos estão ganhando cada vez mais popularidade nesta década (assim como transmasculine e transfeminine), e, assim, acredito que sejam identidades que pessoas não-binárias que se identificariam como "alguém no espectro de gênero feminino/masculino" (visão 1) estejam adotando com mais frequência.

Eu tenho certeza que já vi casos de pessoas se identificando com feminilidade/masculinidade no sentido de arquétipos e não necessariamente com serem mulheres/homens/próximas disso se identificando como mulheres ou homens não-bináries. Porém, não consigo achar exemplos agora.

Juxera e proxvir


Juxera é um gênero adjacente, mas separado, de mulher. Proxvir é um gênero adjacente, mas separado, de homem. Estes termos foram cunhados por um proxvir que não se sentia confortável em usar demimenino, porque este termo significa que alguém é menino (ainda que parcialmente) e é parcialmente alguma outra coisa.

Pode-se dizer que juxera e proxvir são rótulos mais específicos que poderiam entrar no guarda-chuva de mulher e homem não-binárie, respectivamente.

Existem vários outros termos que significam ter um gênero similar a outro, mas resolvi falar destes aqui porque são... especiais, de certa forma.

Como as duas definições são basicamente as mesmas, eu vou apenas traduzir as definições de proxvir. Aqui está a original:

um gênero relativo a homem, mas que é algo separado e completo por si só. não está fora do espectro de gênero.


E aqui está a definição disponível na gender Wiki:

Proxvir é um gênero masculino similar a menino, mas num plano separado por si só.


Esta definição (e a versão dela aplicada para juxera) aparece em vários lugares. Aqui, masculino provavelmente tem relação com a visão 1 (algo masculino = algo relacionado com homem), mas para pessoas que estão mais acostumadas com a visão 2, esta definição pode parecer errônea ou até ofensiva.

Conclusão


Ambas as definições apresentadas na introdução existem. Porém, quando mais termos começaram a ser cunhados, cada vez mais foi possível que cada pessoa escolhesse o que queria dizer ao se identificar como feminina ou como masculina.

Vários termos não citados foram cunhados com essa ambiguidade, ou a ganharam com o tempo (porque pessoas passaram a resumir parte de suas definições usando feminine ou masculine). Mas cada vez mais aumenta a noção de que feminilidade e masculinidade são termos que não inferem relação com gêneros binários, o que aumenta tensões contra pessoas que querem incluir homens em masculinidade e mulheres em feminilidade.

O que dá pra fazer pra evitar confusão?


Pessoalmente, eu acho que a melhor opção é considerar a visão 2 (feminilidade e masculinidade = coisas relacionadas a arquétipos estereotípicos de mulheres e homens que podem ser aplicadas a pessoas de qualquer gênero) como regra.

Isso porque ela é mais inclusiva de pessoas cujas identidades são femininas/masculinas sem terem a ver com ser mulher/homem, e porque é mais fácil substituir masculine/feminine por relacionade a homens/mulheres do que substituir por relacionade a arquétipos e estereótipos relacionados com ser homem/mulher.

Isso, e pessoas que se identificam como femininas de uma forma que não tem a ver com ser mulher ou como masculinas de uma forma que não tem a ver com ser homem existem há décadas; talvez séculos ou milênios. Não faz sentido tentar anular isso, até porque não é como se essa definição proibísse pessoas de associarem sua feminilidade com ser mulher ou sua masculinidade com ser homem.

Porém, isso não significa que podemos ignorar que estas duas definições existem.

Isso significa não reclamar de pessoas gênero-fae que dizem que de vez em quando são homens não-masculines (afinal suas identidades só excluem masculinidade), e nem de pessoas gênero-fae que dizem que não podem ser homens ou de gêneros relacionados e que este é o ponto de sua identidade.

Isso significa aceitar que existem mulheres não-bináries que se encaixam mais na definição de femigênero do que na de mulher, e que existem melles e femmes que são transmasculines.

Isso significa saber que quando alguém cunha uma identidade masculina ou feminina, isso pode ser interpretado de mais de uma forma. (Mas se você estiver cunhando a identidade, pode ser bom tentar deixar explícito o que você quer dizer com tal identidade ser feminina/masculina.)

Ou seja, pode ser importante também levar em conta o que a definição original queria incluir, ou que tipo de pessoas se incluem em cada rótulo atualmente.

Quero também reforçar que feminilidade e masculinidade estão sendo discutidas aqui como identidade pessoal, e não forçada em alguém. Mesmo que sejam conceitos abrangentes e que podem ser definidos por cada pessoa, não é legal dividir tudo em feminino e masculino.

Não sei o quanto este texto realmente vai atingir seu propósito, mas espero que ao menos ajude algumas pessoas a navegar estes significados.


Atração arromântica


E se eu te contasse que sinto atração arromântica pelas pessoas?

Em primeiro lugar, eu tenho que avisar que talvez quem leia esse texto saia sem entender nada. Descrever experiências com atração pode ser complexo, e convenhamos, eu não sou exatamente a melhor pessoa pra explicar os próprios sentimentos.

Mas é isso que o título do texto está dizendo. Eu me sinto atraída arromanticamente pelas pessoas.

1 Tentando explicar


Eu sempre lutei pra entender se eu sinto atração romântica ou não. Já me identifiquei como alorromântica, como arromântica ou como alguém do espectro aro que sente atração romântica em algum grau ou intensidade (ex: demi, gris, arofluxo e etc). Uma maré de confusões. Mas ultimamente, cada vez mais eu ando notando que eu não sinto atração romântica por ninguém, por mais que exista períodos de tempo onde minha mente insiste que eu sinta (o que acontece mais vezes do que eu gostaria). É isto, eu sou arromântico. Minha arromanticidade está aqui e ela é tão palpável quanto o chão sob os meus pés.

1.2 A atração emocional oculta que eu não conseguia desvendar


Existe uma atração que sinto, que eu nunca consegui classificar direito. Antes achava que era atração romântica, mas depois cheguei a interpretá-la como atração queerplatônica ou alternativa. Quer dizer, eu acho que talvez ela ainda possa ser considerada como alternativa, mas sei lá.

Depois de pensar bastante sobre o que diabos essa atração é, o único consenso que eu alcancei foi de que: Eu só posso categorizar ela como arromântica.

— Como caracterizar essa atração? Aqui alguns pontos:

• Ela é totalmente separada de aspectos relacionados à atração romântica. Se a atração romântica está de um lado, ela está de outro. É como se fossem opostas.

• É o gênero-nulo das atrações. Ela é caracterizada por dar tangibilidade à intangibilidade dela. Ao invés de eu sentir uma ausência no lugar de atração romântica, eu sinto algo concreto que só pode ser descrito como minha própria arromanticidade.

• Ela é caracterizada pelo desejo de estar com alguém arromanticamente. Sem conotações românticas. É priorizar a arromanticidade nos relacionamentos, ao ponto deles estarem intrinsecamente ligados um ao outro.

• Ela é complexa como o gato de Schrodinger, mas não é a mesma coisa que ser schrodiromântique.

E é isto. Eu não sei se faz sentido, mas quando eu paro pra analisar essa atração, a única coisa que eu consigo associar a ela é minha arromanticidade. Não há como descrevê-la de outra forma.

Agora eu finalmente entendo o porquê de eu me sentir desconfortável em me identificar como [insira uma orientação aqui] –queerplatônique, –alternative e etc. Porque essa atração que eu sinto não é nenhuma delas.

Quando eu falar que sou [insira uma orientação aqui] –arromântica daqui pra frente, é porque estou rotulando minha orientação a partir desse conceito.

(Edit: 21/12) 1.3 Adentrando mais no assunto


  1. Qual a diferença dessa atração pra atração queerplatônica? Por que não só nomear ela como queerplatônica?

Novamente, eu não me sinto confortável em considerá-la queerplatônica ou como qualquer outra atração emocional não-romântica. Porque pra mim não faz sentido. Eu pessoalmente vejo atrações como estando em planos diferentes. Rotular ela como queerplatônica seria considerá-la em outro plano, e pra mim, essa atração pertence ao mesmo plano da minha falta de atração romântica. Como eu disse anteriormente: Eu só consigo descrevê-la como arromântica.

Em segundo lugar, eu me sinto desconfortável com o termo "queerplatônique" por causa da associação com platonicidade. Claro, há pessoas aplatônicas que usam o termo e o não o associam com atração platônica. Mas ainda assim, é algo que me incomoda.

  1. Mas descrever falta de atração como uma atração não é contraditório?

É. Eu criei esse termo pra ser paradoxal mesmo, porque minha própria atração é um paradoxo pra mim. E também porque eu não consigo desatrelar minha conexão emocional com as pessoas da minha arromanticidade. É simplesmente impossível.

  1. Não é um termo muito confuso?

Eu admito que não é um conceito perfeito. Talvez eu não tenha formulado direito. Talvez eu esteja me baseando demais nas minhas experiências, mas o importante é que isso é o que faz mais sentido pra mim no momento. E eu acredito que também pode ser muito útil pra pessoas com experiências iguais as minhas.

Considerações finais


Considere isso como um post de cunhagem. Talvez eu não seja a primeira pessoa a propor isso, mas pelo menos fica aí o meu registro sobre minhas experiências.

Espero que eu tenha feito algum sentido.

Muito obrigado pela sua atenção!

Eu sou lésbica e sinto atração por homens


Mamãe Safo não aprova clickbaits.

Explicações prévias:

Significado de multi.

— No texto, eu usarei "ê(s) lésbique(s)" e "a(s) pessoa(s) lésbica(s)" ao invés de me referir a todo mundo que se identifica com a identidade com a/ela/a. Sobre o modelo a/p/f.

— Usarei o sufixo "-misia" ao invés de "-fobia" para descrever descriminações. O sufixo "-misia" se refere a ódio. Então vai ficar assim: lesbofobia = lesbomisia; lesbofóbique = lesbomísique. O motivo para essa troca se deve ao fato de que descrever descriminações como fobias é capacitista. Mais sobre o assunto.


É isso que o título diz. Antes de um "mas–" ou um "como–" ou até mesmo olhos flamejando de raiva, respirem fundo por alguns minutos e continuem lendo. Aí depois vocês podem tomar as suas conclusões.

Isso é uma tentativa de produzir um texto relativamente informativo sobre experiências de pessoas lésbicas que sentem atração por múltiplos gêneros (lésbiques multi), e não apenas daquelas que sentem atração por homens, como o título indica. Ao final, irei falar sobre minhas próprias experiências. Ou bem, tentarei entendê-las durante a minha escrita, para poder traduzi-las para vocês.

Vamos lá.

Definindo a experiência lésbica multi


Uma pessoa que se identifica como lésbica multi se identifica com ambos os rótulos "lésbique" e "multi". Ume lésbique multi pode ter escolhido se identificar assim por vários motivos.

Alguns deles são:

• Por possuir uma experiência variorientada. Ex: Fulane sente atração sexual por vários gêneros, e se identifica como polissexual. Mas apenas sente atração romântica por mulheres, então rotula sua orientação romântica como lésbica. A pessoa se sente confortável em se identificar como lésbica multi.

• Por possuir uma orientação flexível. Ex: Alguém que na maior parte do tempo sente atração por mulheres, mas que as vezes sente atração por outros gêneros.

• Por possuir uma orientação fluida. Ex: Alguém abro que flui para a orientação lésbica na maior parte do tempo e que se sente mais confortável em reinvindicá-la como sua identidade principal.

• Alguém lésbique que sente atração por mulheres e pessoas não-binárias que possuem uma conexão com mulheridade. Ou alguém lésbique que sente atração por mulheres e por pessoas não-binárias em geral.

° Eu sei que a definição da identidade lésbica é atualmente flexibilizada para incluir atração por pessoas não-binárias também. Mas isso não deixa de ser uma experiência multi. Há pessoas que por exemplo reinvindicam "lésbique multi" por quererem dar uma maior ênfase em sua atração por pessoas não-binárias. Experiências não-binárias não são adjacentes ao gênero mulher.

• Por ser uma pessoa multi cuja atração por mulheres (ou por mulheres e pessoas não-binárias com uma conexão com mulheridade/outras definições) é maior.

• Por considerar o uso histórico da identidade lésbica. Antigamente, ela era usada por qualquer mulher que sentisse atração por mulheres. Mas após o separatismo lésbico, mulheres multi foram forçadas a abandonarem a sua identificação anterior e construir suas próprias comunidades. Há pessoas que reivindicam ambas as identificações se baseando nesse contexto histórico.

E etc.

Perguntas e respostas


1. Mas se identificar como lésbique multi não é lesbomísico? Não é implicar que tode lésbique sente atração por múltiplos gêneros?

A resposta curta para as duas perguntas é: Não.

A resposta longa é: Pessoas lésbicas multi não querem obrigar todo mundo a se identificarem com suas experiências. E um rótulo pode ter múltiplos significados, sem ignorar ou apagar as experiências de ninguém. Reconhecer lésbica como uma identidade guarda-chuva não é a mesma coisa que dizer que tode lésbique tem que se atrair por múltiplos gêneros. Ou bem, reformulando, já que isso interessa a maioria das pessoas que vem perguntar com má intenção: Se reconhecer como lésbique multi não é a mesma coisa que dizer que toda pessoa lésbica tem que se atrair por homens.

° Também não quer dizer que toda pessoa multi com x experiência é praticamente lésbica. Se identificar com um rótulo é algo extremamente pessoal e não deveria ser forçado sobre ninguém.

2. Mas isso não abre espaço para homens cis acharem que isso é uma bandeira verde para darem em cima de toda pessoa lésbica que veem pela frente?

Acontece que homens cis não precisam de bandeira verde para serem lesbomísicos. Lésbiques multi existindo ou não, eles vão continuar assediando pessoas lésbicas. Nós vivemos em um mundo misógino e heterossexista. Nós vivemos em um mundo dominados por eles. Eles já tem carta branca pra nos machucar.

Que tal não culpar pessoas multi por esse fato?

3. Por que essas pessoas não se identificam de outra forma? É realmente necessário reinvindicarem a identidade lésbica?

As pessoas deveriam ser livres pra se identificarem como quiserem. Se elas acham que se identificarem como lésbicas faz sentido para suas experiências, qual é o mal nisso?

Novamente, isso não quer dizer que toda pessoa lésbica sente atração por múltiplos gêneros. Sério, não há nenhuma generalização quando se trata de identificações pessoais. A forma como nós nos identificamos apenas interessa a nós mesmes.

4. "Lésbique multi" não é algo que provém do lesbianismo político? O termo não é usado por radfems?

Na verdade, isso é uma concepção completamente errônea. Até porque eu duvido que qualquer pessoa "adepta" do lesbianismo político tenha qualquer intenção de reivindicar uma identidade multi ou até mesmo dar qualquer impressão de que esteja confortável em se relacionar romanticamente/sexualmente com homens. Embora haja a possibilidade de ume lésbique multi se identificar assim porque, apesar de ser uma pessoa multi que sente atração por homens, prefere se relacionar exclusivamente com mulheres (ou com mulheres e pessoas não-binárias com uma conexão com a mulheridade/outras definições), ainda não é algo que se trata de recusar a atração por homens devido a uma política relacionada ao feminismo radical.

E sobre a segunda pergunta....radfems odeiam a gente tanto quanto exclusionistas odeiam. Eu realmente queria checar esse mundo onde experiências de pessoas multi são respeitadas/levadas em consideração por feministas radicais. Aonde fica esse universo?

° Lembrete de que se identificar como "lésbique multi" é considerar ambas as identidades relevantes no processo de identificação. Se fosse o contrário, essas pessoas se identificariam apenas como lésbicas ou como multi.

5. E ês lésbiques monossexuais ou ês que não sentem atração atração por homens?

Ainda continuam sendo lésbiques. Sério, a gente pode coexistir. Ao invés de brigarmos entre nós, deveríamos redirecionar toda a nossa raiva para quem realmente merece (as pessoas que estão constantemente procurando uma forma de acabar com a nossa existência). Eu entendo o desconforto com as pessoas implicando que vocês sentem uma atração que, por toda a sua vida, a sociedade tentou impor em cima de vocês. Eu entendo a raiva, a frustração, o desconforto....eu entendo tudo. Eu passei pela mesma coisa também. Eu fui a pessoa designada mulher ao nascimento que sempre, quando falava que nunca iria se casar com um homem, era respondida com escárnio, com desprezo, com descrença. Como se toda a nossa existência fosse ligada a sentir atração por homens (e ai de quem transgredir isso). Mas é sério, nós não queremos obrigar vocês a se identificarem com as nossas experiências. Nós apenas estamos nos identificando com o que faz mais sentido para nós.

Minhas experiências


O primeiro rótulo queer com o qual me identifiquei foi "lésbique". Eu descobri o que ser uma pessoa lésbica significava em um episódio do Casos de Família (sem comentários). Meus olhos brilharam. Toda a minha inadequação de repente fez sentido, e mais tarde, eu logo iria descobrir uma comunidade para chamar de "minha".

Eh, depois de crescer e depois dos milhares questionamentos de identidade, aquele brilho todo sumiu. Mas minha conexão com a identidade lésbica ainda continua firme, vívida e inflexível.

Eu poderia escrever um ensaio de 70 páginas explicando sobre minhas orientações, mas eu acho que ninguém se interessaria em ler várias páginas das minhas eternas confusões. Mas enfim, atualmente (acho sempre bom reiterar isso, porque vai que né), eu me identifico como uma pessoa que está no espectro assexual e que rotula a vaga atração sexual que sente como bissexual. Eu sou uma pessoa lésbica-arromântica, e sinto atração estética por pessoas de vários gêneros.

O motivo de eu rotular minha atração arromântica como lésbica é de que eu só me sinto confortável em me relacionar emocionalmente com mulheres e com pessoas não-binárias (eu também rótulo essa atração como trixen, então eu meio que sou lésbica multi em vários sentidos?). E tipo, eu só consigo me sentir atraída por homens sexualmente/esteticamente mesmo.

• Parte de um texto que eu escrevi quando me identificava como lésbica bi (eu tinha quatorze na época e não me identifico 100% com essas experiências agora).

Eu passei um longo tempo incomodada em me identificar como bi porque minha atração (romântica e sexual) por mulheres era bem maior, e voltei a me identificar como lésbica. Eu descobri que pra ser bi você não precisa ter a mesma frequência de atração por todos os gêneros aos quais você se atrai uns anos mais tarde e voltei a me identificar como bi novamente (uma maré de identificações ksksks). Enfim, mas meio que algo ainda me incomodava, por mais que eu amasse a minha comunidade e me sentisse orgulhosa pela minha identidade, eu ainda possuia uma conexão muito grande com a comunidade lésbica, porque eu meio que cresci me identificando como lésbica e tinha um carinho muito grande pela identidade.
Mesmo sendo uma mulher bi (que é sáfica), minhas experiências de atração não são tão diferentes das experiências de uma mulher lésbica, então, quando eu descobri que eu poderia me identificar com os dois termos eu meio que fiquei, emocionada?

Enfim, eu uso os dois termos agora, por que? Porque minha conexão com a identidade lésbica e as experiências da comunidade são muito importantes pra mim, e me identifico como bi ao mesmo tempo porque mesmo que a minha atração por outros gêneros não seja frequente, eu ainda considero essas atrações uma parte importante da minha vida. É por isso que eu sou uma lésbica bi.


Enfim, é isto.

Considerações finais


É interessante avisar a algumas pessoas que, para mim, ser lésbica não é nenhum jogo ou algo super divertido. Eu já sofri lesbomisia, tudo bem? Eu vivo neste planeta, vejo como as pessoas dessa comunidade são tratadas. Não é um passatempo. É a minha vida. É a vida de outras pessoas. Só porque eu acho homens sexualmente atraentes ou esteticamente agradáveis, isso não quer dizer que tudo isso é automaticamente inválido.

E minha identidade multi é tão importante quanto. Vocês podem tentar arrancar essas identidades das minhas mãos, mas elas estão tão intrisecamente ligadas a forma como eu me vejo, que seria como tentar roubar a essência de alguém. Mas se quiserem tentar, boa sorte.

Vocês vão precisar.


Links adicionais:

Lésbica.

Lesbianismo político.

Identidades controversas, reacionarismos, e atrações múltiplas.

Sobre discursos contra lésbicas multi.

Lésbiques mono, não há nada o que temer. ← (inglês)

Masterdoc lésbico bi/gay bi. ← (inglês)

A tag #explanation de @bi-lesbian no Tumblr. ← (inglês)

Fontes sobre a identidade lésbica/gay multi. ← (inglês)

sometimes I have to remind myself at the gym not to compare my physique with others that may or may not be on gear. I'm not trying to be a bodybuilder after all, my exercise routine is conditioning specific to sport. if I can compare myself now with myself of the past and see that I have improved in some way as a fencer or boxer then that's all that matters

Pessoas não-binárias e a alienação da diamoricidade


AC: discussão sobre invalidação de identidades cisdissidentes e heterodissidentes

Ressalvas


Existem dois problemas em tentar restringir os termos que outras pessoas usam:

  1. É impossível realmente proibir alguém de usar certa palavra. Por exemplo, não importa o quanto pessoas anticapacitistas continuem falando que é para parar de usar o conceito de inteligência tanto em geral quanto em relação a descrever suas atrações (1) (2) (3) (4) (5) (6), ou o quanto pessoas relatam experiências negativas com pessoas sápio que com certeza não aderem aos preceitos usados para defender a identidade, de que "só porque alguém diz sentir atração por inteligência, não significa que essas pessoas estão definindo inteligência de formas restritas" (1) (2) (3), a orientação sapiossexual provavelmente é uma das orientações não listadas explicitamente na sigla LGBTQIAPN+ mais discutidas e conhecidas.
  2. Cada pessoa tem uma experiência de vida (e jornada identitária) única, e, portanto, qualquer "regra imposta" não será universalmente aplicável. Por exemplo, se uma pessoa só diz que é transmasculina e agênero, que só sente atração por mulheres e que quer um termo que expresse sua orientação, eu dificilmente sugeriria lésbique como um termo aplicável; porém, eu não diria que uma pessoa que se descreve mais de forma similar a alguém que poderia se dizer librafemil do que como pessoa sem qualquer ligação com gênero e que tem décadas de experiências em comunidades lésbicas deveria parar de se dizer lésbica por não ter gênero e/ou não se dizer mulher.

Além disso, existe a questão de que, em geral, existem problemas maiores do que um termo que uma pessoa usa. Se uma pessoa usa um termo que acredito que compactua com discriminação, e não estou em uma posição onde faz sentido eu conversar com a pessoa sobre tal questão, posso só evitar tal pessoa e, no máximo, falar de forma geral sobre a questão. A mesma coisa acontece se alguém estiver usando um termo de uma forma que considero incorreta: como algumas pessoas aleatórias usam termos não muda como grupos existentes definem suas identidades, como diretórios onde pessoas caem ao pesquisar termos os definem, e por assim vai.

(Isso também significa que pode ser difícil mudar a ideia geral do que significa um termo, por bem ou por mal.)

Este texto tem o objetivo de levantar a possibilidade de queermisia internalizada resultar em pessoas preferindo termos com conotações binárias — geralmente hétero, gay e/ou lésbique — do que termos cunhados por e para pessoas não-binárias.

Ainda que o texto não seja contra o uso de mais de um entre os termos com os quais uma pessoa sente afinidade, acho fundamental apontar que minha posição não é a de atacar pessoas cisdissidentes por usar ou não usar determinados termos. Aqui está uma citação minha sobre o assunto, de janeiro deste ano:

Dito isso: eu nunca recomendo chegar em alguém que usa algum termo que possa parecer contraditório e falar que a pessoa tem alguma opressão internalizada por se chamar daquilo ou falar que a pessoa não deveria estar usando um dos termos por “não fazer sentido”. Como coloquei acima, há múltiplos fatores que podem levar alguém a se dizer tanto agênero como gay, e uma pessoa assim não tem a obrigação de usar mais termos para justificar tal escolha, assim como também está livre para acumular quantos termos quiser para especificar sua identidade.


Um mini glossário de termos que mencionam pessoas não-binárias


Minha intenção aqui é a de focar em termos que serão relevantes ao texto, além de fornecer alguns exemplos de que termos existem para pessoas não-binárias que não se encaixam bem nas orientações mais comuns disponíveis independentemente da identidade de gênero, como arromântique ou polissexual. Existem muites outres orientações e termos juvélicos disponíveis para pessoas de identidades de gênero diversas e para quem se atrai por elas, e tais termos não são menos importantes ou úteis por não estarem listados aqui.

Diamórique: Alguém não-binárie que se atrai por e/ou se relaciona com outras pessoas, mas que considera a própria identidade não-binária como relevante, da mesma forma que algumas orientações não mencionam simplesmente por quem se atraem mas também informam algo sobre a identidade de gênero da pessoa que sente a atração. Relacionamentos envolvendo pessoas não-binárias podem ser chamados de diamóricos independentemente das outras identidades de gênero envolvidas. Termos que envolvem atração de forma que inclui explicitamente a atração de pessoas não-binárias são ocasionalmente chamados de orientações diamóricas.

Méstrique: Descreve algume atração, orientação ou relacionamento que envolve ao menos uma pessoa não-binária. Ao contrário de diamórique, este termo também pode ser utilizado para descrever pessoas binárias que sentem atração por pessoas não-binárias.

Dórique: Alguém não-binárie que se atrai por e/ou se relaciona com homens, exclusivamente ou não. Um relacionamento entre alguém não-binárie e ume homem pode ser chamado de dórico.

Enebeane: Alguém não-binárie que se atrai por e/ou se relaciona com outras pessoas não-binárias, exclusivamente ou não. Um relacionamento entre duas pessoas não-binárias pode ser chamado de enebeano.

Trízique: Alguém não-binárie que se atrai por e/ou se relaciona com mulheres, exclusivamente ou não. Um relacionamento entre alguém não-binárie e ume mulher pode ser chamado de trízico.

Feminamórique: Alguém não-binárie que se atrai apenas por mulheres. O prefixo femina também pode ser usado de formas mais específicas, como feminarromântique para alguém que se atrai romanticamente apenas por mulheres ou feminassexual para alguém que se atrai sexualmente apenas por mulheres.

Viramórique: Alguém não-binárie que se atrai apenas por homens.

Tóren: Alguém (de qualquer identidade de gênero) que sente atração apenas por homens e por pessoas não-binárias. Não existem limitações em relação a quantas ou quais identidades não-binárias alguém tóren sente atração: uma pessoa atraída por todes menos mulheres bináries pode se dizer tóren, e uma pessoa atraída somente por homens e por homens não-bináries também. É possível usar o termo como prefixo, como em torensexual ou torenalternative.

Tríxen: Alguém (de qualquer identidade de gênero) que sente atração apenas por mulheres e por pessoas não-binárias. Não existem limitações em relação a quantas ou quais identidades não-binárias alguém tríxen sente atração: uma pessoa atraída por todes que não sejam homens pode se dizer tríxen, e uma pessoa atraída somente por mulheres, por pessoas gênero neutro e por pessoas entre tais gêneros também pode se dizer tríxen. É possível usar o termo como prefixo, como em trixensexual ou trixenalternative.

Apego à multidão


Se cada pessoa que desistisse de se dizer viramórica ou feminamórica porque "ninguém conhece esses termos" os adotasse e tomasse medidas para divulgar o que tais termos significam, poderíamos até ter, no mínimo, grupos de socialização para pessoas com tais identidades.

Porém, muita gente prefere o suposto conforto de usar termos considerando o gênero imposto ao nascer ao invés de suas verdadeiras identidades de gênero, ou preferem se definir em termos de serem "gays por homens" ou "lésbiques por mulheres" mesmo que não tenham nenhuma relação com os gêneros homem e mulher, respectivamente. Eu falo de um suposto conforto porque raramente vejo pessoas verdadeiramente satisfeitas em tais identidades ou comunidades: há diversos relatos de conflito dentro de um relacionamento com alguém cis da mesma orientação quando a pessoa não-binária quer afirmar sua cisdissidência por meio de um conjunto de linguagem pessoal diferente e/ou por ir atrás de hormônios ou cirurgias que mudarão seus corpos, ou de ter amizades/ir em encontros onde o grupo é de pessoas da mesma orientação e as pessoas fazem comentários excludentes contra a identidade da pessoa não-binária.

A questão não é que toda pessoa hétero, gay ou lésbica seja inerentemente despreparada para lidar com pessoas não-binárias, ou que pessoas de alguma orientação específica vão inerentemente ser completamente inclusivas de todas as facetas da não-binaridade e da cisdissidência, mas sim que não só o argumento de uma pessoa ser "melhor entendida" ou "mais em contato com a realidade" por rejeitar quaisquer orientações incomuns é falho, como também a existência de espaços diamóricos poderia ter oferecido redes de apoio melhores para pessoas não-binárias buscando relacionamentos com mulheres ou homens do que espaços sáficos ou aquileanos, onde a não-binaridade é mais rara, mais apagada e nunca vai ser centralizada (sendo que, em até certo ponto, isto é compreensível).

Não quero apagar a questão de existirem pessoas não-binárias satisfeitas em enfatizar algum lado mulher e/ou homem de sua identidade acima da experiência não-binária: entendo que uma pessoa bigênero homem/mulher pode se sentir mais afirmada se dizendo lesboy do que feminamórica caso sinta atração apenas por mulheres, por exemplo. Também existem pessoas que, ainda que não tenham conexão com a binaridade, se sentem satisfeitas em comunidades associadas com mulheres ou com homens. Porém, que fique o convite: todas as pessoas fora do binário mulher/homem podem utilizar termos diamóricos (ainda que o termo "não-binárie" tenha a tendência de ser utilizado por questões práticas) e, quem sabe, ajudar a construir tais espaços, sem que isso precise significar um abandono dos termos utilizados ou espaços frequentados no presente.

Retórica reducionista


O outro problema que uma pessoa não-binária pode enfrentar é o exorsexismo que permeia vários espaços heterodissidentes. Estes podem ditar que os termos corretos a ser usados dependem de um "alinhamento de gênero" imposto por como a sociedade maldenomina cada pessoa, e que termos feitos por e para pessoas não-binárias são apenas fantasias problemáticas que validam a homomisia internalizada daquelus que não querem se dizer lésbiques ou gays e/ou a "invasão" de pessoas "(essencialmente) hétero" (ainda que pessoas não-binárias não sejam validadas na heteronorma).

E, se essas pessoas aceitam que pessoas não-binárias são não-binárias e não deveriam ser jogadas para termos definidos em torno da binaridade ou da ausência de atração, elas impõem que então quem é não-binárie é pan e só deve namorar quem é pan. Não pôli, ainda que seja um termo que implicita em sua definição a existência de mais de duas identidades de gênero; não bi, ainda que ativistas bi em geral reinvindiquem a possibilidade de atração por pessoas não-binárias; mas só pan, porque é como se só fosse possível reconhecer atração que envolve não-binaridade se ela existir independentemente da identidade de gênero.

(Pan não se limita a atração independente de gênero, mas é assim que o termo tende a ser percebido por quem quer forçá-lo em quem é ou que se atrai por gente não-binária. Caso alguém tenha interesse em saber a diferença entre bi, pan, pôli e outras orientações, este texto se aprofunda nisso.)

Também quero ressaltar o quão absurda é a proposição de que alguém é "só algo": de que alguém fortitudiane é "só gay" ou de que uma pessoa heteroflexível é "só bi" ou "só hétero". Nenhuma orientação precisa ser reduzida a só um termo: uma pessoa pode tanto usar o termo fortitudiane quanto os termos gay, medisso e enebeane. Uma pessoa hétero será também duárica, e, dependendo do resto de suas experiências, pode ser ante, julietiana, romérica, campiona ou afins.

Como falei , só porque alguém prefere um termo, não significa que a pessoa está contra outros termos. Termos não são times em confronto, são descrições. Isso significa que alguém pode usar termos diferentes dependendo do contexto, ou usar vários termos de uma vez só para explicar facetas de sua identidade: por exemplo, ume mulher não-binárie atraíde por mulheres não-bináries e outres mulheres pode se dizer lésbique, feminaflexível, tríxen e/ou ogli, isso sem contar termos juvélicos como enlune, sáfique e equárique.

Porém, existe essa ridicularização de termos que são mais específicos, ou mesmo que oferecem possibilidades que pessoas binárias não gostam de considerar, como a questão de alguém poder se atrair pela não-binaridade de alguém e não pela expressão de gênero ou corporalidade.

Uma anedota sobre a percepção da não-binaridade em questões de atração em espaços online


Eu entendo que os espaços que passei foram limitados, e que talvez não exista relação entre estes eventos ou grande repercussão deles. Porém, minha perspectiva é que discussões online acontecendo onde há uma centralização grande de gente NHINCQ+, especialmente pessoas dentro de comunidades que ainda não eram/são tão descentralizadas, tendem a pesar nas produções feitas pela própria comunidade de formas que são capazes de afetar a comunidade como um todo, dentro de certa medida. Enfim:

No início da década de 2010, houve uma onda forte de transmedicalismo no Tumblr, onde quaisquer pessoas não-binárias ou homens/mulheres trans fora de certos padrões de gênero eram ridicularizades tanto por (em geral) homens trans brancos que acusavam essas pessoas de prejudicar a percepção das pessoas trans. Este era o ponto de contato mais perto de ser intracomunitário, porque obviamente também existiam mulheres cis se dizendo feministas que falavam sobre o quanto essas pessoas estavam se rendendo a acreditar em padrões de gênero e pessoas "contra justiça social" que mais pra frente se tornariam "alt-right" e fãs de influencers que flertam com pensamentos nazistas.

Nesta época, não haviam muitas discussões sobre as atrações de pessoas não-binárias. Possivelmente porque as (comparativamente) poucas pessoas não-binárias tinham a tendência de ser múlti e/ou a-espectrais: o termo cétero tinha sido cunhado, mas era majoritariamente teórico, ao mesmo tempo que alguns termos surgiram para incentivar outres a evitar a conotação dos prefixos gine e andro mas, novamente, geralmente não tinham uso suficiente para ser espalhados.

Embora o ódio contra pessoas não-binárias nunca tenha sumido completamente, falar sobre o mesmo assunto acaba sendo redundante até para grupos de ódio, os quais passaram a focar mais em pessoas múlti, e, eventualmente, foram desenvolvendo também argumentações nocivas contra pessoas assexuais, arromânticas, aplatônicas e variorientadas (geralmente focando em pessoas assexuais e demissexuais). O ódio geral contra pessoas bi tinha a tendência de vir de lésbicas cis, mas algumas pessoas trans, bi, pan e/ou não-binárias eventualmente compraram as argumentações quando o assunto passou a ser pessoas a-espectrais.

Estas argumentações, em geral, tinham a base em definir "LGBT" por meio de "atração pelo mesmo gênero" ou "pessoas que sofrem com homomisia ou transmisia", com a inclusão de pessoas bi e trans muitas vezes sendo reduzida a consequências secundárias do ódio contra a atração pelo mesmo gênero. Também era esse o tipo de pessoa que dividia todas as pessoas não-binárias em alinhamentos binários com base em passabilidade para argumentar que gay, lésbique e bi eram as únicas orientações reais, com o resto "não sendo orientações" ou sendo caracterizadas como "apenas ódio internalizado causado por pessoas hétero confundindo adolescentes para invadir a comunidade" (no caso, pessoas oferencendo outros termos como opções).

Com isso, pessoas construindo solidariedade contra esses discursos de ódio (ou, em certos casos, querendo abrir portas para pessoas terem seu contato com ideologia reacionária de forma amigável) começaram a falar sobre homens que sentem atração por homens e mulheres que sentem atração por mulheres, fazendo blogs e comunidades em torno disso ao invés de orientações específicas. Pessoas não-binárias eram muitas vezes aceitas, mas apenas sob a ideia de que tais pessoas teriam alguma conexão com um desses gêneros, mesmo que de formas mais legítimas do que discurso reducionista da passabilidade.

Foi nesse contexto onde finalmente houve um empurrão mais forte para a cunhagem de diamórique e de termos específicos dentro da mesma ideologia: a de que pessoas não-binárias merecem a existência de termos que falam de identidades não-binárias de forma explícita. Essas discussões foram compartilhadas em palcos maiores do que cunhagens novas geralmente eram (ou hoje em dia são), de forma que ao menos alguns blogs foram criados a respeito desses assuntos.

Também surgiram vários outros termos menos espalhados, mas todos dentro deste contexto de descrever experiências não contempladas explicitamente por termos usados principalmente por pessoas binárias. E, enquanto isso, sempre houveram pessoas reacionárias reclamando sobre quaisquer termos "supérfluos" enquanto também criavam barreiras em torno de quem poderia se dizer o quê.

Com o passar do tempo, porém, algumas pessoas adultas com mais experiência em espaços NHINCQ+ começaram a bater de frente contra a ideia de que termos como femme, butch, lésbique e gay eram tão exclusivos quanto algumas pessoas afirmavam ser. Isso fez com que algumas pessoas começassem a se assumir como lésbiques/gays múlti, grupo que virou o alvo de ódio principal depois das pessoas a-espectrais.

Em 2020, dados do Gender Census apontam um pico - especialmente entre aquelus com menos de 30 anos - de pessoas fora do binário de gênero respondendo que são lésbiques, femme e/ou butch como identidades de gênero. Em 2021, tanto gay quanto lésbique em relação a identidade de gênero foram opções marcadas por algo entre 10% e 20% des respondentes, sendo gay mais popular ainda que tenha sido lésbique que causou a aparição de tal termo na lista em primeiro lugar.

Obviamente, tais dados não são sobre orientações, e sim sobre identidades de gênero. Mas não posso deixar de notar que tal onda ocorreu justamente quando houveram mais discussões online defendendo usos bem mais abrangentes de termos como lésbique e gay do que geralmente eram vistos há 10 anos atrás. E que tal onda também corresponde com o declínio de discussões sobre ser diamórique, enebeane, dórique ou trízique.

Minha intenção aqui não é a de acusar alguém ou algum grupo de prejudicar pessoas não-binárias por meio de defender enebês que se sentem confortáveis se colocando como lésbiques, gays, aquileanes, sáfiques ou afins. Porém, eu acredito que possa haver um meio termo entre os extremos de pessoas não-binárias só poderem existir completamente alheias a tais identidades e de redefinir atrações por mulheres ou homens dentro da comunidade não-binária como sempre inerentemente lésbicas ou gays.

Minhas sugestões para o futuro


(AC: segunda pessoa)

Normalização é importante. Ao fazer listas de ou gráficos sobre orientações e/ou termos juvélicos, é importante contemplar também termos que incluem a não-binaridade de forma explícita. Por que ainda tem gente tratando termos que centralizam os gêneros mulher e homem como fundamentais para o entendimento da heterodissidência, enquanto termos que mencionam a não-binaridade, mesmo que sejam abrangentes e/ou diretos, são vistos como nichados ou inúteis? Existem mais de duas identidades de gênero, e a grande maioria delas está sendo desconsiderada e desvalorizada em materiais supostamente inclusivos de qualquer forma de atração. Isso é exorsexismo.

Sente-se isolade em relacionamentos com pessoas binárias? Vá atrás de um grupo. É possível chamar pessoas em redes sociais ou grupos não-binários já existentes para participar de um grupo sobre ser diamórique/dórique/trízique. É possível perguntar sobre a existência de tais grupos. É possível levantar esse assunto dentro de grupos mais gerais para pessoas não-binárias.

Relatos são importantes. Tem algo a falar sobre experiências de atração por pessoas não-binárias? Você está se envolvendo com questões de atração e relacionamentos sendo uma pessoa não-binária? Você se assume como pessoa não-binária em espaços sáficos, aquileanos ou duáricos? Fale sobre suas experiências em um site ou blog, para que outras pessoas possam aprender sobre o assunto.

E, finalmente, não tenha medo de adotar termos adequados para determinada situação. Não há a necessidade de se abrir para todo mundo ou de adotar ativamente todos os termos que possam contemplar sua identidade, mas não faz sentido uma pessoa não-binária ter receio de se dizer viramórica em um espaço não-binário, ou não querer se afirmar como trízica ou dórica para não afastar pessoas binárias frágeis que podem se aterrorizar ao entrar em contato com algum termo que desconhecem. Sua identidade de gênero merece respeito, mesmo dentro (ou talvez especialmente dentro) de um relacionamento, e com isso podem vir particularidades como os termos que vão definir uma atração ou um relacionamento de forma mais precisa.


Tudo o que eu sei sobre atração alternativa


Aviso de conteúdo: Este artigo contém várias descrições do que acontece sob amatonormatividade, além de uma breve menção a sexo em relacionamentos queerplatônicos.

Também menciona algumas invalidações de experiências aplatônicas/aqueerplatônicas e de quem sente/não sente atração alternativa. Eu pessoalmente não acho que tenha nada particularmente pesado, mas não custa avisar.


Esta postagem é sobre atração alternativa, já que não existem referências detalhadas sobre o assunto em português. Alternative (com final de palavra flexível) é minha tradução para alterous. Vou explicar depois o motivo desta tradução.

O objetivo desta postagem é informar sobre o que atração/orientação alternativa pode significar, e sobre como cheguei nestas conclusões. Portanto, esta postagem não será um apanhado sobre a história do termo ou sobre todes es discussões e símbolos existentes, e sim apenas algo que tenta trazer mais detalhes sobre o conceito.

Recomendo ter algum conhecimento sobre a existência de mais de um tipo de atração antes de ler esta postagem, mesmo que seja superficial. Se você precisar saber mais sobre isso, sugiro que leia esta página e os links presentes nela.


A primeira vez que vi bandeiras e uma definição de alterous foi aqui.

Alterous attraction is described as neither being (entirely/completely) platonic nor romantic, & is an attraction best described as wanting emotional closeness without necessarily being (at all or entirely) platonic &/or romantic, & is used in the place of -romantic or -platonic (so say bi-alterous instead of bi-romantic). Someone can be both alterous & romantic &/or platonic & can have varying degrees on attraction, ultimately feel discomfort / unease / or just a sense of inaccuracy in calling it wholly romantic or platonic. Similar to queerplatonic/quasiplatonic/quirkyplatonic attraction but not quite the same.


Traduzindo:

Atração alternativa é descrita como não sendo nem (inteiramente/completamente) platônica nem romântica, e é uma atração melhor descrita como querer proximidade emocional sem ser necessariamente ser (relacionada com ou inteiramente) platônica e/ou romântica, e é usada no lugar de -romântique ou -platônique (como, digamos, bi-alternative ao invés de bi-romântique). Alguém pode ser alternative e romântique e/ou platônique e pode ter vários graus de atração, [mas] no final das contas sentir desconforto / inquietação / ou simplesmente um sentimento de imprecisão em chamá-la completamente de romântica ou platônica. Similar a atração queerplatônica/quasiplatônica/quirkyplatônica sem ser exatamente isso.


Caso este bloco de texto tenha sido confuso, acredito que seja nisso que ele queria chegar:

  • Atração alternativa tem a ver com querer proximidade emocional;
  • Ela pode não ter nada a ver com atração romântica e platônica, ou pode ser parcialmente romântica e/ou platônica;
  • Você pode usar -alternative assim como usa -sexual, -romântique ou outras orientações (assim como uma pessoa pode ser birromântica e/ou bissexual, ela pode ser bialternativa);
  • Atração alternativa ocorre independentemente de outras atrações. Ou seja, é possível sentir atração alternativa independentemente de ser arromântique ou alorromântique (fora do espectro arromântico), e/ou de ser aplatônique ou aloplatônique;
  • Atração alternativa é similar à atração queerplatônica, sem ser a mesma coisa.

Meses depois - possivelmente mais ou menos um ano depois - soube de um blog para trazer visibilidade a pessoas que sentem atração alternativa e que consideram ela importante, Alterous Albatross. No blog, a descrição do que é atração alternativa é mais simplificada; só diz que não é completamente romântica ou platônica, e que é um desejo por proximidade emocional.

Pouco depois desse blog ganhar alguma popularidade, algumas pessoas começaram a questionar se a definição de atração alternativa não estava implicitamente colocando atrações platônicas como menos importantes do que românticas, além de prejudicar os esforços de redefinir relacionamentos platônicos como não necessariamente restritos a amizades. Ambas essas questões são lutas que a comunidade arromântica já tinha por anos.

Para que todes estejam na mesma página, vou desviar um pouco o assunto do texto para falar sobre platonicidade e queerplatonicidade.


Como muitas pessoas arromânticas não conseguem querer/manter relacionamentos românticos, nesse meio surgiu uma questão de valorizar amizades, e outra questão de relacionamentos queerplatônicos.

Essa primeira questão é um questionamento das normas sociais amatonormativas. (Se você não sabe o que é isso, pode ler o texto linkado, ou tentar entender pelo contexto abaixo.)

Em sociedades ocidentais, geralmente há a expectativa de colocar relacionamentos românticos como mais importantes do que amizades. Então situações como as seguintes são vistas como normais, ou no mínimo comuns:

  • Alguém se mudar de cidade por causa de sue companheire romântique, quando isso não seria feito por uma amizade;
  • Alguém abandonar sue(s) amigue(s) por conta de ciúmes de ume parceire romântique;
  • Alguém parar de passar (tanto) tempo com suas amizades para se dedicar a um número menor de parceires romântiques;
  • Outras situações aonde relacionamentos românticos têm prioridade acima de amizades.

Isso, além da expectativa de que todo mundo vai ter algume parceire romântique ideal algum dia, prejudica muito pessoas que não sentem esse tipo de atração em algum/qualquer grau e/ou que não querem esse tipo de relacionamento. Portanto, é comum que essas pessoas lutem para que amizades e relacionamentos românticos sejam vistas como relações diferentes mas igualmente válidas, e não como uma hierarquia.

O estereótipo de pessoas arromânticas como "pessoas que não amam" também gerou a resposta "mas podemos ter amizades" de dentro de comunidades arromânticas.

Mas isso, por si só, gerou outra questão. Nem todo mundo tem amizades, e nem todo mundo quer tê-las. Eventualmente, a identidade aplatônica passou a ser usada por pessoas sem vontades de fazer amizades, especialmente pessoas neurodivergentes.

E essas pessoas passaram a lutar contra a ideia de que amizades são necessárias na vida de alguém, ou de que ter amizades dá mais valor à vida de alguém. Mas isso já entra em outro assunto.

A outra questão que surgiu, como já falei, é a de relacionamentos queerplatônicos (RQPs).

Algumas pessoas na comunidade arromântica queriam poder ter relacionamentos próximos, mesmo sem envolver atração romântica ou convenções envolvidas com relacionamentos românticos. Então surgiu o conceito de RQPs.

Cada RQP pode funcionar de uma forma diferente. Mas, em geral, são relacionamentos não-românticos que envolvem alguma forma de compromisso. Parceires queerplatôniques podem querer ter relações sexuais exclusivamente entre si ou não (ou podem nem ter/querer tais relações), podem querer morar juntes ou não, podem querer se casar legalmente ou não, podem querer ter famílias juntes ou não.

Algumas pessoas tinham grandes preferências em relação aos gêneros das pessoas com quem queriam ter RQPs, então algumas pessoas passaram a se identificar como heteroplatônicas, poliplatônicas, mulheplatônicas, etc.

Outras pessoas não queriam RQPs, algumas dessas até achando que começou a ter uma pressão para pessoas arromânticas terem RQPs similar à pressão para ter relacionamentos românticos. Essas pessoas muitas vezes adotaram a identidade aplatônica.

Para resolver a questão do sufixo -platônique estar sendo usado para duas coisas diferentes (a vontade de ter amizades e a vontade de ter relacionamentos queerplatônicos), algumas pessoas resolveram que este segundo uso deveria usar o sufixo -queerplatônique. Assim, uma pessoa que não sente vontade de ter relacionamentos queerplatônicos seria aqueerplatônica (ou aqp).

Algumas pessoas usam o sufixo -amical para indicar vontade de fazer amizades, mas isso é relativamente raro.


Enfim, a questão é que comunidades arromânticas tinham bons motivos para suspeitar da inclusão de uma atração supostamente "entre platônica e romântica". Essas pessoas achavam que o conceito de atração alternativa estava tentando apagar a ideia de que relacionamentos platônicos (incluindo tanto amizades quanto RQPs) poderiam ser tão importantes quanto relacionamentos românticos, mesmo que esta não tivesse sido a intenção.

Algum tempo depois dessa polêmica, eu tive que traduzir alterous para incluir esse conceito no Orientando. Até aquele momento, eu achava que alterous era só uma palavra em inglês que eu não conhecia, já que palavras como sexual, romantic, platonic e afins eram todas palavras já existentes. Mas eu não consegui achar a palavra fora do contexto de atração, e também nunca achei a origem da palavra.

Considerei usar [orientação/atração] alterosa, mas no fim decidi por alternativa. Ela é, afinal, diferente das outras de uma forma difícil de resumir, e eu não queria passar vergonha adaptando mal uma palavra que não sei como foi escolhida.

Tanto essa tradução quanto a descrição que estava até agora pouco no Orientando (desejo de familiaridade e intimidade com alguém, de forma geralmente descrita como entre platônica e romântica) foram feitas antes de eu saber da descrição mais interessante dessa atração com a qual já tive contato.

Num grupo no Discord, uma pessoa arromântica e aplatônica que sente bastante atração alternativa (alguém confiável, mas que nunca postou sobre isso em nenhum lugar para não receber ódio), falou sobre atração alternativa ser qualquer atração emocional que não é 100% platônica ou 100% romântica.

Tal pessoa, que é NB, falou que atração alternativa é basicamente uma atração emocional "não-binária", porque inclui atração que é uma mistura de romântica com platônica, que não tem nada a ver com atração romântica ou platônica, que é parcialmente uma dessas duas e parcialmente outra coisa, que não pode ser definida, etc.

Nesse caso, pessoas que classificam sua atração queerplatônica como diferente de uma atração platônica poderiam dizer que sua atração queerplatônica está dentro do guarda-chuva da atração alternativa.

Portanto, eu sugiro definir atração alternativa de alguma forma parecida com esta:

Atração alternativa é uma atração que envolve o desejo de proximidade emocional, mas que não é nem 100% platônica e nem 100% romântica. Pode, assim, ser uma mistura entre estas duas atrações, relacionada a atração platônica ou romântica sem ser idêntica, algo completamente diferente das atrações romântica e platônica, entre várias outras possibilidades.


Também vale lembrar que algumas pessoas possuem relacionamentos alternativos, sem achar que eles se encaixam em RQPs. Outras pessoas usam os dois termos.

Ao revisitar a descrição de atração alternativa daquela pessoa (para passar os pontos principais dela aqui), percebi que foi uma atração descrita como emocional. Essa é uma das únicas vezes que vi uma atração sendo descrita desta forma, sendo que a outra vez que lembro de ter visto isso foi quando pesquisei sobre conteúdo sobre atração alternativa em português e me deparei com esta lista, que divide os tipos de atração mais conhecidos entre físicas e emocionais.

Eu não sei o quão bem essa divisão funciona, mas enfim, achei relevante colocar a informação aqui.

Para terminar, eu gostaria de falar sobre uma discussão que houve naquele mesmo grupo de Discord, sobre que tipo de orientação alternativa pode ser considerada marginalizada.

Uma pessoa estava com a opinião de que pessoas analternativas (sem atração alternativa) são a norma, enquanto pessoas com atração alternativa não possuem muito espaço para discutirem sues atrações e relacionamentos úniques; fora que relacionamentos alternativos, assim como queerplatônicos, estão fora das normas sociais.

Outra pessoa argumentou que, como alguém que não sentia praticamente nenhum tipo de atração, não ter atração alternativa não é uma vantagem. Afinal, sentir qualquer tipo de atração/ter qualquer tipo de relacionamento, ao menos na maioria das sociedades ocidentais, é algo que valida mais a existência de alguém. "Pessoas arromânticas e assexuais ao menos podem ter amizades/RQPs" é uma tentativa de assimilação, mesmo que atração alternativa seja desconhecida demais para ser mencionada.

A conclusão tirada foi que não considerar uma orientação alternativa como relevante é a norma, enquanto sentir a necessidade de defini-la, independentemente de qual for a orientação, está fora da norma.

Espero que este texto tenha sido interessante, útil e explicativo!


in reply to Kiri 💾🐍 //nullptr::live

re: mental health, physical injury, death, venting

Sensitive content

Το μέγεθος της καταστροφής & οι φρικαλεότητες που διαπράττει ο πιο δειλός & ανήθικος στρατός με την υποστήριξη της Ευρώπης & της Αμερικής, θα φτάνει πάντα στον “ελεύθερο” κόσμο

"It clearly reflects a deliberate intention to silence the truth and obscure the suffering of an entire people enduring one of the worst health and humanitarian disasters."

middleeasteye.net/news/israeli…

Από τα χθες, όλη τη μέρα παιδεύομαι με εσάς λοιπόν, πάω να χτυπήσω κάτι τηλέφωνα & άμα βρείτε καμιά λύση γενικά σε κάτι ή όλα πείτε. Στα θέματα της ζωής & της επανάστασης θα τα αναπτύξουμε μετά ή & αύριο ίσως, όλα θα τα λύσουμε όμως & το πιστεύω δε θα είναι κυργιακος για πάντα. Θα φάω & μερεντα να γλυκαθώ 😋

Μλκ τι παίζει με την ζέστη??? , άραξα μόνη μου σ' ένα μπαράκι για ένα παγωμένο campari soda και στο πρώτο τσιγάρο συνειδητοποιώ ότι όλοι πλακώνονται!

Το πίνω στα γρήγορα και έφυγα για Βραδυνή αυτοκινητάδα παρέα με
962.gr/

My partner and I have been to the Bernese Oberland (Berner Oberland) 4 times in the last 26 years. Each time the rain has cleared up within a day of our arrival, leading Sarah to accuse me of being an "anti-rain god". (Other holidays also support her case.) The forecast for next weekend suggests she's wrong.
#Interlaken #BernerOberland #Switzerland
yr.no/en/forecast/daily-table/…

> Psalms 36:5-8 📖

Your loving kindness, Yahweh, is in the heavens.
Your faithfulness reaches to the skies.

Your righteousness is like the mountains of God.
Your judgments are like a great deep.
Yahweh, you preserve man and animal.

How precious is your loving kindness, God!
The children of men take refuge under the shadow of your wings.

They shall be abundantly satisfied with the abundance of your house.
You will make them drink of the river of your pleasures.

#bible

Midwest Prison Censorship Update 2025: Exposing the IDOC Mail Scanning Scam
unsalted.noblogs.org/post/2025…

"Originally published on chicagoantireport.noblogs.org/… View the zine: Screen PDF – Printable PDF View the Prison Censorship Survey results Individual articles: “Stop Mail Scanning in Illinois” by

Microsoft only continues to exist because people are forced to use much of its software. If people had real choices, it would be no more.

It is by far the least competent of tech giants, and that's what makes it so dangerous.

aljazeera.com/economy/2025/7/2…

Calling all librarians! NASA sponsors dozens of research projects that need help from you and the people in your community. These projects invite everyone who’s interested to collaborate with scientists, investigating mysteries from how star systems form to how our planet sustains life. You can help by making observations with your cell phone or by […]

🔴🇧🇪🇮🇱La Belgique a arrêté 2 soldats israéliens, présents au festival Tomorrowland en #Belgique, accusés de crimes de guerre à #Gaza
« Ces plaintes concernent de graves violations du droit international humanitaire commises dans la bande de Gaza. »
La police belge a arrêté et interrogé 2 soldats israéliens lors du festival de musique Tomorrowland, suite à une plainte déposée par la Fondation #HindRajab et le GLAN. Les 2 hommes ont été libérés, mais une enquête criminelle est en cours.
« Pour la première fois en Europe, des suspects israéliens liés à des crimes à Gaza ont été formellement arrêtés et interrogés », ont déclaré les organisations. « Nous pensons que quelque chose d'important a commencé. »
Les 2 militaires israéliens appartiendraient à la brigade #Givati de l'armée israélienne et auraient été directement engagés dans des offensives ciblant délibérément des zones civiles, ainsi que dans des actes de torture et le déplacement forcé de la population à Gaza

leparisien.fr/faits-divers/deu…

#israel #israël

The myth of Western liberal democracy - Thomas Fazi


#politics #democracy

As censorship becomes routine, dissent is increasingly criminalised, propaganda becomes ever more blatant, legal systems are weaponised to suppress opposition — and entire elections are annulled because they deliver the wrong outcome, as we saw in Romania — can we still speak of democracy? But, more importantly, did we ever really have democracy in the first place? Or was it always a façade?


thomasfazi.com/p/the-myth-of-w…

@EscapeVelo
Was it the barbados cherry you were looking for?
In stock here. Price seems a little high, but not bad if that includes shipping.
This nursery used to be in my neck of the woods and they moved to the west coast a few years ago.
toptropicals.com/store/item/37…
in reply to Erpel

The image depicts a landscape scene during sunset, with a dramatic sky filled with dark, heavy clouds. The sun is partially visible, casting a bright orange and yellow glow through a break in the clouds, creating a striking contrast against the darker sky. In the foreground, there is a small town with houses featuring various roof colors, including white, red, and brown. The town is surrounded by fields and agricultural land, with some trees scattered throughout. The horizon shows a gentle rise in the land, with a few hills visible in the distance. The overall atmosphere is one of a calm evening, with the interplay of light and shadow adding depth to the scene.

Provided by @altbot, generated privately and locally using Ovis2-8B

🌱 Energy used: 0.153 Wh

1 500 000 À 21H30 !


(400 000 signatures en 24h)

et il faut continuer ainsi jusqu'à 4 800 000 pour un référendum

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petitions.assemblee-nationale.…

#duplomb dans l'aile #legislatives #petition #référendum

Emmanuel Florac reshared this.